terça-feira, 16 de agosto de 2011

Exercício das almas vagantes


Há muito embrenho no silêncio da minha língua já cansada.
Acreditei nas dezenas de andorinhas que pousaram hoje na minha janela.
Sua partida, mais de uma quinzena, senão, um tempo imemoriável.
Minha permanência, insistência de quem não mais tem como dispensar seu tempo.

Cansada minha língua está de falar sobre nosso silêncio, simonia de nossas almas em condenação eterna.
Andorinhas revelam a fidelidade impessoal nos seres que se dizem humanos, elas sim, são fieis.
Mais uma despedida. Não sei mais me despedir. Não há mais tempo entre ir e vir, somente a quinzena que ficou em mim, pois você se foi.
O tempo que passou, eu tentei guardar de forma alienável. Insistência de quem já se perdeu na vida que viveu, tantas experiências sugerem envelhecimento precoce.

Nosso silêncio está na língua cansada, alma condenada, indulgência indeferida.
Fidelidade está no exercício das andorinhas de partir e sempre voltar para o mesmo lugar.
Pessoas costumam ir e vir em um movimento banalizado. São os aviões andorinhas de aço?
Alienei o espólio dos amores antigos que encontrei em você, estou envelhecendo na vida que você viveu sem mim.

Minha alma está condenada no silêncio de minha língua que nega a indulgência proferida.
No lugar do exercício da andorinha, a virtude da fidelidade está conjugada ao labor da volta constante.
Cansei de voar. Cansei de ver as nuvens. Pessoas voam sobre seus próprios sonhos. Banalizo sua loucura por mim.
Amores antigos deixam legados. Amores antigos são espólios herdados. Amores antigos são a ruina dos impérios presentes.

Há muito me escondo no silêncio da minha língua já tão cansada de repetir as mesmas frases.
As andorinhas representam o retorno da prosperidade, acredito na fidelidade como exercício das almas vagantes.
Um dia, há de ter apenas uma volta, pois estarei esperando por esse momento.
Minha permanência é sinônimo de que não posso mais esperar...

Alexandre Miranda de Souza – publicado no Recanto das Letras.

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