terça-feira, 28 de junho de 2011

Lugar seguro.

Um lugar seguro, quase isolado, desejo de ser irreconhecível, distante, silencioso...

Ao balouço das aragens quando assim os deuses desejam...


Os degraus da escadaria em que desço parecem incontáveis, contudo, sei exatamente quantos são e onde estão. Ao rolar escada abaixo, sinto cada baque, cada pancada em meu corpo, quebrando e triturando ossos, vou rolando, aguardando pacientemente o fim.

As asas do avião definem como parâmetro principal onde está o horizonte. Ao rolar as escadarias, perco o meu ponto de referência, não sei aonde anda o horizonte, só o abismo que se abriu sob meus pés.

Acima das nuvens é algo realmente divino. Talvez por isso, muitos querem estar lá.  Mas o arco que se faz entre as nuvens, o horizonte e as asas se desfaz em apenas um breve segundo, como o passar de uma vagarosa brisa, o tempo se torna insubordinado e do moroso, faz-se o instantâneo e assim vamos todos seguindo absolutamente cansados.

Estou sem coerência nas palavras. O que são elas, senão, um amontoado de letras, que formam sílabas, que formam palavras, que formam frases e que compõem um texto sem significado algum?

Exatamente assim vou seguindo. Sem significado algum. Deus, você consegue me ouvir? São tantas preces a Ti, será que a minha consegue chegar aos Seus ouvidos? Não, claro que não, porque eu blasfemo o tempo todo. E não acredito mais em Ti. Mas será que Você não poderia me ouvir pelo menos uma única vez?

Você pode me ouvir? Você pode me ver? O que está acontecendo dentro de mim? Estou tão cansado e não vejo claramente um caminho à minha frente.

Vou colocar minha vida no piloto automático e caminhar por entre a multidão e dizer ‘Olá, tudo bem!’ sem me interessar verdadeiramente no que os outros sentem. Vamos construindo nossa história, tijolo por tijolo esperando que palavras abençoadas nos dê o aval das nossas atitudes insanas.

Você é capaz de me ouvir? Entender o que acontece dentro de mim? Amar antes de ser amado? Dar o carinho sem que ele seja devolvido em dobro? Respeitar antes de ser respeitado? Ouvir antes de ser ouvido? Você consegue enxergar-me?

Eu estou aqui, mesmo não sabendo exatamente onde estou, mas estou aqui, em algum buraco escondido, entre as árvores do meu sítio. Entre os galhos mais altos, talvez nas copas das árvores. Estático quando o vento nos abandona. Ao balouço das aragens quando assim os deuses desejam...




terça-feira, 21 de junho de 2011

Our life

You're minding your own business while I am losing my spirit force... I'm lost in my asylum. Soul Asylum!

Quatro cavaleiros em seus cavalos imponentes

Enquanto o sol arqueava sobre mim, eu vi em sua curvatura, relâmpagos incandescentes que formavam imagens obscuras e praticamente irreconhecíveis. Quatro cavaleiros em seus cavalos imponentes desfilavam diante da perplexidade do meu mundo. Finalmente o Juízo Final se achegou. Definitivamente aliviará nossas dores.

Eu vi o primeiro em um cavalo branco. Trouxe lembranças do passado, cuja arma era a escrita, as reminiscências, o que outrora era felicidade e que tornou-se tormenta e desespero. Sua fala travava batalhas contra meus maiores inimigos, sem se aperceber que eu mesmo era um deles.

O segundo em um cavalo negro. Trouxe a fome em meu espírito, cuja arma era um conjunto de imagens desfocadas, estagnadas, envelhecidas e distorcidas por véus e relíquias beatificadas. Em uma de suas mãos encontrava-se uma balança usada para julgar-nos e definir nosso destino. Eis que encontro-me em seu inferno.

O terceiro em um cavalo baio. Trouxe em uma das mãos uma grande foice. A privação dos meus sentidos, dos meus desejos, dos meus prazeres, da minha vida. Veio ceifar o que há muito foi devastado e ainda não consegui replantar. Feudo repatriado, restituído ao seu dono original. Servo da opressão instituída como vida a se seguir.

O último estava em um cavalo vermelho. Tinha em uma das mãos uma espada ensanguentada. O sangue pingava em minha face. Trouxe a liberdade de matar os outros cavaleiros. A guerra, a luta pela destituição dos impérios estabelecidos anteriormente. Porém, temo não ser sua espada, suficiente para tamanha batalha.

O ultimo brilho do sol esticou-se por detrás das derradeiras folhagens que escondiam o horizonte. Por um breve momento, estive diante do meu Juízo Final. Afinal, o que não é a vida senão aguardar o seu termo, ou no máximo, esperar pelo amanhã?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Let it be me still the same man always

Let it be me still the same man always...

“Se no abismo está minha alma”

Se no abismo está minha alma” é porque o cigarro ainda queima sozinho sobre a mesa. Que diferença faz se ele vai queimar e desaparecer?  Ainda assim estará só. 

Will I still care for you? Will you still care for me?

A linha que separa o nascer do sol do seu morrer é simples posição geográfica. Não tão tênue como a que pode definir a morte pelas palavras, a fina linha que aprisiona e oculta a razão de nossas mentes. A moeda que tem dois lados, mas que se paga sempre com o mesmo. Quanto mais alta é minha prece, menos santificada parece ser. Gritar não adianta quando não se pode ouvir. Sofro de cegueira crônica, uma verdade que nos impede de observar com exatidão o que se fala ou o que se faz. Sofro de uma surdez de dar dó, pois não consigo escutar meus próprios clamores, se deus não os escuta, quem dirá, eu mesmo?

Atravessei o dia como o arco que o sol fez sobre nossas cabeças. Blasfêmia natural, pois o sol do lugar não saiu. Da mesma forma, o relógio anda com seus ponteiros, mas também não se move. Ilusão, apenas isso. Acompanhei seu arco da rede que balançava sobre seu próprio ponto estático. As palavras se revestem de significados que outrora delegamos e que esquecemos de esvaziá-las. Quão vã é a vingança, mesmo que revigorante pareça! Na verdade, cobramos caro do que idealizamos e não encontramos quem pague a conta. E não podemos obrigar o outro a entender o que exatamente somos. Como explicar o nada ou o caos?

Will I still care for you? Will you still care for me? Como se bastassem palavras para expressar o que não podemos sentir.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quando a paixão se transforma em amor?

Ale, quando a paixão se transforma em amor”?
Não sei Mi, talvez não percebamos o momento exato, possivelmente estamos já nos amando”.
Perco-me em meus pensamentos. Olho distante.
Ale, onde você está”?
Só pensando...”.
Viajo então, ao fundo do que sei sobre isso. Quando busco em seus olhos o carinho que preciso na hora em que estou confuso. Quando o sorriso que desponta em seus lábios conforta o meu ser em sofrimento. Quando seus braços enlaçam meu corpo e entoam um ritmo sem igual. Quando nos deitamos e nossas pernas se confundem e não sei mais estar sem você ao meu lado na hora de dormir. Quando acordo no meio da noite e fico observando seu sono angelical. Quando seus lábios tocam os meus, com uma suavidade contraditória, tão intensa e ávida, quanto tênue e ligeira. Quando toco seus cabelos e você se enrosca em meu peito. Quando enlaço seus ombros e emparelhamos nossos passos. Quando damos as mãos enquanto passeamos sem destino certo. Quando não consigo deixar-te e em beijos gostaria de perder o avião.
Ale”!
Oi, Mi”.
Conta o que você está pensando...
Não estou pensando em nada meu amor”.

Dança comigo?

O aroma deleitante envolvia o ambiente, cálido como uma manhã de verão, uma mistura diversa de sabores, confusa infusão sobre meus sentidos, imposição prazerosa, determinação clara do que seria o próximo passo. Um vinho, um chocolate meio amargo, algumas ervas temperando o peixe e seus condimentos no fogo. “Dança comigo”? A cozinha transformou-se em espaço corpóreo do sagrado. Humildemente, um passo para o lado, dois para o outro. Buliçoso, seu corpo em contato com o meu, movimentos impossíveis de se descrever. Como eternizar aquele momento? Outra música, agora tão calma que os corpos praticamente se estabilizam. Não menos sensuais não menos intensos. Estrutura física audaciosa, anatomia harmoniosa, ato impulsivo, lábios se tocam em explosivo incontido, pavio aceso, impávido, o colosso se desponta, não há mais volta, não há mais fôlego, o período contínuo se dissipa. Não há mais o antes e muito menos o depois. Há somente um estado de absoluta confusão. Não sei quem sou em meio ao inaudito exercício das nossas capacidades motoras.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Vendo a grama crescer

O silêncio é verde, como a grama que teima em crescer diante de mim. Estou na rede, enquanto o balançar intermitente dita o campo da minha visão. A cada ida e vinda, um pouco da grama silenciosamente desponta da sua mais tênue escuridão, do seu mais oculto querer. Quero vê-la crescer, despontar, invadir, gritar o seu silêncio incapaz de se sobressair. As lágrimas escorrem para dentro, o soluço, ser introspectivo, internaliza, o tremor se compassa ao ritmo do coração, o medo se equivale à coragem, o olhar permanece atento, o pensamento é livre, me perco em sua liberdade... Vou amar em silêncio, como o verde crescer da grama, como o brilho ofuscante do ouro prensado e marcado com o selo do rei, vaidade e ganância dos tolos que ainda acreditam em vão deslumbramento, o abraçar do mundo em constante mutação silenciosa. 

Céu de Brigadeiro

Eu fiquei observando você através da porta de vidro, sentada na rede, pensativa, olhar ao longe. Seu semblante doce e meigo necessitava expressar-se. Aproximei fisicamente de ti, mas ainda sem adentrar seus mais íntimos pensamentos. “Deita aqui comigo”, uma súplica ponderada, regada com aquele olhar intenso, pedido inegável. Deitei-me, aninhei-me, mas foi você quem se achegou em meu colo. Doce prazer de sentir o calor do seu corpo ao meu, carinho inviolável, sentindo o perfume dos seus cabelos no meu rosto, o encaixe perfeito do seu corpo ao meu. A rede balançou e você imediatamente a reteve. “Não, não balance”, disse em tom autoritário, porém, doce e suave, como tudo em você. Deixei escapar em meus pensamentos “Estou tão cansado, quero perder-me neste momento”, inaudível, você consegue me ouvir? Acredito que não. Mas aquele momento por si só era uma pequena doação dos deuses e, como não poderia ser diferente, eu aproveitei para aninhar-me mais ainda em você. Momentos assim, inolvidáveis, são raros também. Olhei para o céu, autêntico céu de brigadeiro. Um avião lançava-se no vazio, com destino incerto. “O que você está pensando?”, meticulosamente, acercou-se de preparar o caminho para sua própria jornada. Mesmo estática, a rede balançava levemente e sua voz era tão suave que parecia um sussurro terno que penetrava meu ser. “Sabe, Ale...” palavras tão íntimas, sentimentos tão profundamente guardados, medos revelados, fragmentos de uma vida que se quer revelar, não por inteiro, como um quebra cabeça montado, mas sim, frágil pensar de um passado distante e ao mesmo tempo presente. Uma ingenuidade perdida, tentativa de resgatá-la, improvável. Caminhei seus caminhos apenas com meus ouvidos, senti suas lágrimas em mim, beijei seus olhos e você perguntou se estavam salgados. Doce sal do amor. Hoje, sal, de saudade. Ficamos ali, por horas intermináveis... “Ale”, novamente o íntimo clamor. E meus ouvidos sedentos de um amor intenso, constante, seguro... “Ale”, fica comigo, não vai embora... “Ale”... 

Aquele lago negro

A noite estava extremamente fria. Diante de nós, um lago negro com pequenas ondas resultado das rajadas de vento que provocava uma sensação ainda mais intensa de frio. Havia um grande espaço gramado entre a pista de cooper e as margens, ao qual, naquele instante, parecia impenetrável. Ao longe, alguns patos brancos se escondiam do frio, imóveis como enfeites de jardim. Confesso que eu não vi, mas você os mostrou com tanto carinho que minha imaginação se encarregou de vê-los. “Ali por vezes me sento, fico olhando o lago, após a caminhada, jogando comida para os patos”, disse ela em voz suave e apaixonada. Imaginei-me ali, naquele momento, sentado com ela, quebrando todas as minhas regras, rolando na grama úmida pelo sereno, desenrolando as amarras que minha história de vida deixou me prender. As margens continuaram impenetráveis, o lago ainda mais negro, o frio mais intenso, afastei-me pensativo, tentei acompanhar seu pensamento, mas o instante não permaneceu como um instantâneo fotográfico, mas sim, como um negativo, daqueles que se guarda no fundo de uma gaveta, uma memória existente, porém, esquecida. Queria mudar tudo ali.