quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Passarinhos em forma de mangas rosadas e suculentas?

Família em geral é uma forma de relação social muito estranha. Para não dizer bizarra. O que não fazemos para que todos aqueles encontros, sejam eles, semanais, dominicais, festivos, etc., saiam da melhor forma possível? Ou seja, sem brigas, ofensas, rancores, disputas, pequeno universo dos pecados capitais.

O firmamento em que se assenta a minha já se esfacelou. Planetas colidiram saindo da rota... O que fazer? Se afastamos de uma, aproximamos de outra, e às vezes, de forma perigosa. Se amantes, não somos amados, se desejamos, não somos desejados... Dilemas que enfrentamos cotidianamente, inclusive em sonhos...

Esta noite sonhei com minha família. A original.

Estava correndo pela avenida como se eu fosse o carro. Os ônibus passavam por mim tão perto e rapidamente que metiam medo. Levantei-me e corri, agora usando os próprios pés. Meu filho me conduzia, queria me levar à casa de minha mãe, que há muito eu não via. Contudo, ela tinha comprado uma terceira casa, e essa eu não sabia o endereço.

Chegamos então ao pé de um morro, onde as casas se amontoavam formando um espectro de tijolos e concreto indivisíveis. Frio, seco, cinza... Subimos por entre as passagens estreitas, por dentro de casas. Em uma delas, cumprimentei uma senhora que estava no sofá assistindo televisão. Passei pela cozinha, entrei no banheiro e saí por uma porta em um quintal.

Neste quintal, avistei a casa de minha mãe. Parecia a roça que íamos quando criança. Estas cidades pequenas à beira das estradas que contam apenas com dezenas de habitantes.

Minha mãe ficou sentada em uma cadeira do lado de fora e não se levantou quando eu cheguei. Entrei na cozinha, não sei para quê e comentei ao ver tantos equipamentos eletrônicos modernos, não sei o quê. Nos meus sonhos geralmente os diálogos escapam...

Mas algo no quintal chamou minha atenção. Duas caixas de sapato. Quando me aproximei, minha mãe mandou abrir uma delas. Havia um animal raro. Vários. Eram aves que pareciam mangas rosadas e suculentas. Minha nossa?! Passarinhos em forma de mangas rosadas e suculentas? Percebi o formato das asas e da cauda. Eram de um amarelo rosado tão intenso que me assustou. Quando abri a outra caixa, outros pássaros havia lá dentro. Mas estes estavam cinza e sem cor. Não me interessei e quis fechar.

No entanto, não consegui fechar. Eles cresceram e ficaram como os outros da primeira caixa. Pareciam agora mangas suculentas. Eu tentava desesperadamente fechar a caixa, mas eles saíam por todos os lados. Um deles me olhou atentamente e tudo se resumiu naquele olhar. Um pássaro em forma de manga com olhar meigo e ao mesmo tempo assustador. Os olhos eram de uma cor negra intensa e brilhante. Parecia carente e desprotegido. Quando de repente, o bico da ave transformou-se em uma pequena ducha cinza que ao invés de soltar água, sugava... Parecia ventosa... Aquilo sugou a ponta do meu dedo e ao soltar deixou pitadas de canela e pimenta do reino em pó.

Foi quando meu irmão chegou e fingiu que não me conhecia. Voltei para a rua e continuei andando pelo asfalto...

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