quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Somos babás com graduação, pós-graduação e mestrado

Voltei ao trabalho hoje. Não com alunos, mas reunião pedagógica. Acordei às 5hs e ainda estava noite. Que deprimente. Arrastei-me ao banheiro, tomei uma ducha, fiz a barba, que estava maior que o próprio cabelo, tomei meu café e saí de casa apressado para pegar o ônibus que passa exatamente as 6hs.

A viagem dura aproximadamente 50 minutos. Enquanto ouço meu mp3, por acaso, The Strokes, contemplo a escuridão deste ordinário horário de verão. Passa as praças, viadutos... Tudo em silhuetas sombrias e horríveis. Toco "Is this it" por mais de três vezes. Obsessão pelo baixo tocado de forma arrebatadora, criativa, impulsiva e alegre, embora a melodia nos deixe um pouco depressivos. Passada a fase da mania repetitiva, deixo rolar as outras músicas, até chegar outro impulso obsessivo: "Last Night", batidas rápidas, vocal distorcido meio desesperançado, enquanto todos se sentem "Down". Dependendo da paisagem que vejo da janela do ônibus, toco esta última por umas 2, 3 ou 4 vezes, mas logo vem a próxima, um riff de bateria e guitarra que nos introdruz ao mundo dos conflitos entre ser, não ser ou querer ser e um riff é arrebatador...

Mas minha viagem é demorada e dá para ouvir todo o cd. Enquanto as músicas tocam, vou observando as pessoas que viajam comigo, ou pelo menos no mesmo ônibus que estou. São pessoas simples, trabalhadoras, que saem de seu bairro distante para trabalhar no centro da capital. Ao contrário, eu saio do centro da cidade para trabalhar onde eles estão deixando. De certa forma cuidamos dos filhos dos outros. Somos babás com graduação, pós-graduação e mestrado.

Neste momento faço duas viagens. Uma com o corpo inerte, deslocando pelo espaço dentro do ônibus e outra tentando descobrir o indescritivel de cada rosto que alí está, olhando o meu possível balanço quando o refrão de "Barely Legal" começa a tocar. Não tem como ficar parado. A música circula sobre si mesma e nos remete aos loops de montanhas russas imensas e aterrorizantes.

Em um determinado momento da viagem, todos os passageiros descem e no ônibus ficam uns pingos de três ou quatro pessoas, incluindo eu. É nesse momento de quase solidão andante, que inicia a melhor música deste CD, "Trying Your Luck". A letra é fraca, mas a melodia combina melancolia e rítmos disco/pop/indie/rock, acrescidos de um solo de guitarra simples, direto, delicioso, que tirei no meu violão elétrico Eagle...

Ao final da viagem, descobri que tudo é solidão. Somente eu ouvi e pude curtir todas as sensações que as músicas podem nos trazer.

Mas todos estão preocupados com seus próprios problemas e que são tão problemáticos quanto os de qualquer um...



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